sexta-feira, 6 de maio de 2011

Não conformismo ou a vida aos meus olhos

(…) - Aqui asfixio – acrescentou, lançando uma olhadela à sua volta. – Estas duas assoalhadazinhas são um prisão e já não as suporto. Eu sei qual é o meu limite. Esta rotina, esta mediocridade, estão-me a matar. Não quero que o resto da minha vida seja assim. Tu não te importas, tu estás satisfeito, melhor para ti. Mas eu não sou como tu, eu não me irei conformar. (…)
Mario Vargas Llosa ‘Travessuras da Menina Má’
DSC00652Este excerto do livro recém-lido podia ser tirado a papel químico da minha vida. A fulana acabou por deixar o marido pela enésima vez, ao contrário de mim, que não o deixei nem o vou deixar. No meu caso a separação é só física, porque continuamos tão bem como sempre.
Mas subscrevo inteiramente a ideia de que duas pessoas bastante diferentes possam estar perfeitamente juntas. Desde que no essencial estejam de acordo.
Nós não podíamos ser mais diferentes. Eu sou toda aventureira (mas não me peçam para fazer desportos radicais…) e tu és muito mais calmo. Eu acho sempre que vai correr tudo bem e tu contrapões as tuas reservas ao meu optimismo. Eu gosto mais de sair e de passear do que estar em casa, e tu gostas mais de estar no sossego, principalmente desde que vivemos juntos. Eu não consigo lidar bem com as coisas que não gosto e tu já as suportas melhor.
Por isso não acho que a distância física seja uma coisa assim tão má. Conseguimos dar valor às coisas que já dávamos como garantidas e que às vezes até já nos aborreciam. Eu gosto muito do meu apartamentozinho de duas assoalhadas, mas houve vezes que quase me sentia presa e sem liberdade condicional à vista.
Felizmente, a vida encarregou-se disso.

3 comentários:

  1. É engraçado como as ddiferenças, muitas vezes, são ponto de união!

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  2. Eu identifiquei-me muito mais com o Ricardito do que com a Menina Má... por todos os motivos óbvios... Mas compreendo muito bem essa sensação de clausura. No entanto, daí a abandonar hipoteticamente aquilo que me dá segurança e me faz feliz vai uma grande distância... Em todos os momentos achei que a Menina Má estava a optar pelo caminho errado ao partir... e estava...

    Quanto a ti, a situação é diferente. A partida é uma contigência inevitável, um estado declaradamente temporário porque vocês dois sabem e têm a certeza que a próxima paragem nessa viagem é os braços um do outro. Apesar de todas as diferenças... E é por isso que vos admiro tanto enquanto casal! :)

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  3. Também me identifiquei muito com esta passagem que colocaste aqui...

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